domingo, 31 de julho de 2011

Macacos e mangueiras!


As mangas verdes e pequeninas, na maior parte das vezes, não prestavam para comer. Nem os macacos as queriam. Apanhavam-nas, davam-lhe uma mordidela e deixavam-nas cair para o chão.


Quando marchávamos pelo mato e era forçoso que se mantivesse o mais absoluto silêncio, lá aparecia um macaco que dava um guincho e punha a família toda a responder-lhe. Era o suficiente para assinalar a nossa presença e lá se esfumava a surpresa com que esperávamos actuar.



Maiores, mais apelativas na cor era prenúncio de que nos saberiam melhor quando lhe metêssemos o dente. E como fome era coisa que não faltava naqueles tempos, não era raro fazermos desta fruta uma refeição. Algumas tinham um gosto forte à resina que fazia com que as arremessássemos pelo ar após a primeira ferradela.


Na encosta da serra ou por cima das árvores, bandos de macacos faziam uma algazarra danada. Uns achavam-lhe piada, outros tinham-lhe medo, mas a mim eram-me indiferentes. De vez em quando e apenas por diversão saía uma rajada da G3 para o meio das copas das árvores e então... era o fim da macacada!


Mangueiras e mais mangueiras de belas sombras ao pé da praia. Mangas para trincar de vez em quando que mais pode um homem pedir a Deus?
Tudo isto só nas margens do mais lindo lago do mundo, o Niassa!

sábado, 30 de julho de 2011

Os pescadores do Niassa!

Desde a Pré-História que a pesca é usada pelos animais que habitam este planeta como grande fonte de alimentação para garantir a sua subsistência.
A águia pesqueira que povoa as margens do Lago Niassa é disso um grande exemplo. Quem não assistiu já ao velocíssimo mergulho que a águia, lá das alturas, faz em direcção à superfície líquida onde avistou o brilho prateado de uma saborosa presa em que, num ápice, consegue cravar as suas garras elevando-se de novo nas alturas.


O Homem não é diferente dos outros animais que Deus colocou à superfície da Terra. Também ele tem que procurar e lutar pelos alimentos de que precisa. Não tendo as asas, os olhos e as garras da águia tem que socorrer-se de outros apetrechos para conseguir retirar das águas o peixe com que se alimenta.


Pequenos barcos, ou mesmo pirogas escavadas em troncos de árvores, abatidas na floresta próxima, são usados para ir ao encontro dos peixes no meio em que vivem. Todos os habitantes das margens do Lago Niassa nadam como peixes. Desde que saem da barriga da mãe treinam todos os dias para atingirem esse objectivo que vai dar-lhes as ferramentas para conquistarem o seu quinhão de comida e assim sobreviverem neste mundo adverso.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

E se isto não for o que eu penso?

Confesso que me sinto um tanto ou quanto confuso quando olho para esta foto. Do ângulo em que ela foi tirada deviam avistar-se outras coisas e não aquelas que se vêem na imagem. Onde está o cais das bombas? E as machambas cheias de papaieiras à borda de água?
E esta espécie de areal cheio de árvores onde antes só havia caniços! Será que tudo mudou assim tanto?


A torre branca é a única coisa que me faz acreditar que isto é uma imagem de Metangula, feita a partir da entrada da baía. Tudo o resto é para mim uma completa novidade, mas não quer dizer que não possa ser verdadeira. Afinal já se passaram 43 anos desde que virei as costas àquele (este) lugar!

domingo, 24 de julho de 2011

Se eu pudesse regressar...!

... talvez viajasse de avião. E ao aproximar-me de terra e da pista que tantas vezes capinei e cuidei para que os aviões pudessem aterrar em segurança, veria com certeza esta imagem que hoje vos ofereço.


Não sei quem nem quando fez esta fotografia, mas sei que é digna de figurar aqui neste blog. É difícil pedir mais a qualquer fotógrafo. O enquadramento da península onde se situa o Comando da Defesa do Niassa é perfeito. A cor do Lago é, como sempre, um sonho. A vista geral de toda a baía que é o melhor porto de abrigo ideal para qualquer marinheiro não podia ser mais bem apanhada. Em resumo, uma maravilha de fotografia para retratar outra maravilha que é Metangula.
Aproveitem e... nem precisam de agradecer!
Bom resto de domingo!

domingo, 17 de julho de 2011

O Motoqueiro!

Há dias publiquei uma foto tirada mais ou menos deste mesmo sítio. Só que não aparecia o motoqueiro que podeis ver aqui. Ao princípio fiquei um tanto ou quanto admirado, pois não me pareceu lógico que andasse por ali alguém de motoreta, mas depois de pensar um bocado já a coisa me pareceu natural. Porque não? É um dos meios de transporte mais práticos e mais baratos e uma boa aposta para as gentes daquele recanto do mundo.


Ir de Metangula a Maniamba de motoreta é uma viagem e tanto. E, pensando nas feras que por ali andam à solta, um pouco assustadora, mas se calhar as coisas mudaram muito e há outras povoações entre as duas cidades. No nosso tempo era um bico de obra fazer aqueles 30 quilómetros e não habitava ninguém por aqueles lados.
Mas já lá vão 44 anos desde que vi esta terra pela última vez. E então praticava-se ali um desporto perigoso - esconder minas em tudo que era canto. Será que já as localizaram e desactivaram todas, ou ainda estão por lá algumas para dar algum desgosto a alguém?

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um mergulho para aquecer!

Parece estranho o título, não é verdade? Mas com o termómetro a razar os zero graus, em Lichinga, o melhor é correr até ao Lago e dar um mergulho para aquecer o corpinho enregelado.


A viagem até Meponda é mais ou menos metade (em quilómetros) daquela que separa Lichinga de Metangula e embora a estrada ainda não tenha sido alcatroada num pulinho está-se lá.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Desenvolvimento tarda em chegar!


Rua principal de Metangula, vista de sul para norte, com a encosta do Tchifuli em pano de fundo. Como se pode ver o alcatrão ainda não chegou aqui, mas os paus de fio dão indicação que o telefone já não é novidade por aquelas bandas.


Em foco a mesma rua, mas vista agora de norte para sul. Neste lugar, onde se encontrava o fotógrafo que bateu esta chapa, havia, há muitos anos atrás, uma paragem da «Malaposta» que dava apoio ao «machibombo» que fazia a viagem entre Vila Cabral e Metangula uma vez por semana, à terça-feira.
Foi há tanto tempo que já não há ninguém que se lembre disso. Nesses tempos recuados da vida dos habitantes de Metangula, não havia guerra, nem Frelimo, nem muitas outras coisas más que depois disso lhe calharam em sorte.

domingo, 10 de julho de 2011

A Terra Vermelha do planalto!


Vila Cabral / Lichinga, ontem ou hoje, terra vermelha e matope, vento e poeira que entra pelos olhos e se cola ao corpo de quem por lá anda. E, claro, a chuva também atrapalha.
Esta semana choveu e fez frio como há muito não sentiam as gentes do planalto niassense. Esteve o termómetro perto do zero absoluto e já se faziam piadas sobre quem aguentaria melhor aquele clima, se os europeus ou os africanos. Foi preciso ir ao fundo do baú e mostrar a luz do dia aos abafos mais quentinhos que cada um tinha guardados (se calhar poucos).


Crianças de uma aldeia que fica a meio-caminho entre Lichinga e Maniamba. Esfarrapados mas bem dispostos. Para quem não tem nada, tudo é uma festa, até a passagem de um missionário branco. Não têm cara de fome e parecem felizes. É um bom sinal.
Nas proximidades do lugar onde moram, andam várias empresas a fazer prospecção de petróleo. Se forem bem sucedidos nos seus intentos, será que a vida para estas crianças vai melhorar ou virar num inferno? Desenvolvimento trará com certeza, mas isso não é sinónimo de felicidade.

Chegou um turista!

Esperaria ver chegar a Metangula um turista mal vestido, de mochila ás costas ou com aspecto de caçador de feras, de chapéu colonial e arma a tiracolo, mas nunca com um par de malas que ficariam melhor no aeroporto do Maputo.


Mas quem está habituado a viajar é que sabe o que deve levar consigo. Eu diria, no entanto, que este turista não sabia para onde ia, ou não está habituado ás terras e ao clima africano. Meia-dúzia de T-Shirts, uns calções e um par de sandálias era tudo quanto precisava para uns dias bem passados naquele paraíso.

sábado, 9 de julho de 2011

Metangula, a esquecida!

Não tem sido muito profícua a minha ligação aos novos amigos que consegui angariar em Lichinga. Ou porque não estão nem aí para aquilo que eu pretendo, ou porque não têm aquilo que eu tanto procuro. Numa terra onde falta tudo, já é um milagre ter um computador e acesso à internet. Querer ainda que tenham uma máquina fotográfica digital já é pedir demais. E pensar que podem andar, assim sem mais nem menos, os 120 quilómetros que separam Lichinga de Metangula para poderem satisfazer os meus desejos é pura utopia.


Mesmo assim, ainda consegui uma foto, tirada da estrada de Maniamba, ao descer do caracol e logo que se avista o lago, que dá para ver uma coisa - é verdade que o alcatroamento da estrada até Metangula já está terminado.
Um grupo de Ex-combatentes que visitou Metangula em 2004 tirou uma foto deste mesmo lugar em que se via ainda a estrada ainda em saibro. Alguma cois mudou para melhor.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Mundo como Deus o fez!

Para quem viaja de Nkolongue para Metangula e aprecia belas paisagens, não tem mais que parar o carro e correr os olhos por aquilo que se estende para norte a perder de vista. As águas calmas do lago ou a agreste beleza das montanhas seriam motivo mais que suficiente para satisfazer o fotógrafo mais exigente. Mas há mais, muito mais. A cada curva do caminho, um novo olhar, uma nova paisagem, um macaco que pula de uma mangueira e mil outras nuances que nos fazem acreditar termos chegado ao paraíso, ao último lugar da Terra livre de poluição e ruído provocadores de stress. Tudo ali é paz e sossego.


Pena é que quando por ali passámos estivéssemos mais preocupados com o funcionamento da G3 do que com a beleza que Deus pôs em frente aos nossos olhos. Lembro-me de uma operação, com desembarque um pouco a sul do ponto onde foi feita esta foto, em que fomos recebidos à bazucada e apanhei um dos maiores sustos da minha vida. Felizmente a guerra faz parte do passado e as gentes que por ali vivem podem desfrutar destas belezas em paz e segurança. A menos que tenha ficado por lá esquecida alguma das "viúvas negras", também conhecidas por "marmitas", com que os nossos opositores nos presenteavam.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Oh vós que passais, dizei-me por onde andais!

Tenho feito uma caça incessante aos «amigos do Facebook» a ver se encontro algum que me envie fotos actuais do nosso lago, mas o sucesso é igual a zero. Aqueles que usam o FB são os que debandaram daquelas paragens, à procura de vida melhor, e vivem hoje em Nampula, na Beira ou no Maputo. Quem ficou preso ás margens do Niassa vive num outro mundo que está mais perto da Pré-História do que daquele que nós conhecemos.
Electricidade, automóveis, computadores e outras modernices não fazem ainda parte do seu dia-a-dia. A sua preocupação é ainda a de garantir pão para a boca e continuar vivo neste vale de lágrimas. Para os que atingem a idade da iniciação sexual há o tremendo problema da Sida à sua espera. Nada, portanto, de muito boas perspectivas para me ajudarem a levar por diante este projecto de manter o «Farol» aceso e iluminando os recantos mais escuros da península de Metangula.
Mas melhores dias virão. Para o Farol e par as gentes de Metangula que acabarão por ter acesso a todas as modernices deste mundo. É tudo uma questão de tempo. Entretanto, para ajudar a passar o tempo, deixo-vos aqui algumas fotos feitas pelos passantes daquela zona.