No longínquo ano de 1969 (já eu estava fora da marinha, era casado e pai de filhos) era, orgulhosamente, inaugurado o troço do caminho de ferro que ligava o Catur a Vila Cabral. Durante os 5 anos seguintes, milhares de combatentes portugueses fizeram essa famosa viagem, entre Nacala e Vila Cabral, em muito melhores condições do que eu, quando me calhou a vez, no último trimestre de 1966, pois tive que fazer o troço final (mais de 200 Kms) em cima de uma Berliet do Exército e por uma estrada que era pouco mais que um carreiro de cabras.
Depois veio a independência, a guerra de libertação transformou-se em guerra civil, entre comunistas e os seus opositores, e viveram-se anos muito maus. como seria de esperar num país sem rei nem roque. Tudo era roubado e/ou destruído para alimentar essa guerra que, embora em termos menos agrestes, continua até aos dias de hoje. A novíssima linha de caminho de ferro, de Nova Freixo (agora chamada Cuamba) até Vila Cabral (hoje Lichinga) também não escapou a essa voragem.
Os bandidos armados, assim eram chamados todos aqueles que lutavam contra o instituído governo marxista-leninista, assaltavam os comboios e pilhavam tudo aquilo que lhes fazia falta para continuar a sua luta. Em função disso começaram a rarear os passageiros e dentro de pouco tempo o tão famoso «Comboio do Catur» desaparecia de circulação.
Passaram, entretanto, mais de 40 anos e as vias de comunicação, em todo o distrito do Niassa, com algumas raras excepções, pioraram se comparadas com aquilo que foi deixado da era colonial. O Caminho de Ferro foi aquele que mais sofreu, tendo quase desaparecido da vida das pessoas. Qualquer niassensse com menos de 40 anos que não seja viajado, nunca viu um comboio a não ser em videos que os smartphones, espalhados pelos quatro cantos de Moçambique, levam até eles.
Neste ano da graça de 2016, a história vai dar um gigantesco passo atrás e devolver o comboio àquela gente que bem precisa dele. Cerca de 340 Kms de carris novos ou rectificados pela Mota-Engil, empresa de construçõea portuguesa, foram colocados entre Nova Freixo/Cuamba e Vila Cabral/Lichinga e será uma questão de dias até se ouvir o comboio apitar de novo na capital do Niassa.
O ver virão chegar e parar na estação. Quando isso acontecer lá estarão as pessoas para no novo comboio embarcarem E ouvir o ouvirão pela linha a apitar. Sem saberem quando é que à próxima estação irão chegar? Viva o progresso, mais tarde do que nunca. Qualquer dia menos dia, vai chegar a Metangula?
ResponderEliminarÉ com grande satisfação que recebo a noticia da próxima operacionalidade dos comboios e seus carris que bem falta farão ás populações locais.
ResponderEliminarBasta haver um pouco de paz e o progresso começa a notar-se!
Será desta que Moçambique avança!...
Eu veria com bons olhos o prolongamento da linha para norte, até à Tanzânia, para promover o intercâmbio entre os 3 países, Moçambique, Tanzânia e Malawi. Houvesse dinheiro para isso!
ResponderEliminar