segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cobué - O fim do mundo!


Se não fosse pelas ilhas Likoma que se vêem na linha do horizonte eu nunca descobriria que esta foto foi tirada no Cobué. Não fui dos que passou muito tempo no Cobué, de facto apenas passei por lá uma meia dúzia de vezes e além do Colégio de S.Miguel não me lembro de coisíssima nenhuma.
Aqui fica a foto para aqueles que amargaram ali um pouco da sua juventude nos dias da guerra, para verem como as coisas estão hoje.

3 comentários:

  1. Em 1971 fui "condenado" pelas Altas Entidades Militares a ficar no Cobué 6 mêses e francamente se não fosse o paludismo que me deixou em posicão horizontal por 3 semanas, a estadia até não seria má... Tinhamos pesca à granada, tínhamos cozinha com lenha e sempre batatas com fartura. Tinhamos as páginas do Notícias de Lourenço Marques e uma Casa de Banho que ia de onde estava o gerador, passava ao lado do Campo de Futebol e continuava até à praia e talvez por isso mesmo "os turras" nunca tiveram a coragem (nem o azar) de pisar uma das muitas minas de excremento que o pessoal lá ía botando... E depois nunca faltou o bagaço na Cantina, depois do jantar, e sempre alguém para nos dizer "as últimas" de Metangula... Mas o melhor de tudo, é que aparte de um gajo ficar de sentinela, ir cortar lenha e descascar batatas, NUNCA HAVIA NADA PARA FAZER. A caserna que me lembre só foi baldeada uma vez. E havia sempre futebol aos fins-de semana com craques que nunca eram substituídos, e claro, a prática de tiro a latas da 2M... Como tal, acho que com a presença "da Miss Malawi" nas imediações do Colégio de São Miguel O COBUÉ SERIA UM HOTEL DE 5 ESTRÊLAS!

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  2. Cobué, Cobué, de muitas recordações para mim!
    1ª o rancho da porca!
    2ª a caça dos jacarés com o tenente Saltão!
    3ª o ter que fugir por entre as palhotas para evitar que um marido ciumento me cortasse o pescoço!
    4ª a pesca do peixe com as granadas de mão!
    5ª o petisco com o exército no dia da matança das vacas!
    Foi bom ter passado por lá!
    Aprendi muito no Colégio S.Miguel!
    O meu abraço aos amigos que lá fiz

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  3. Acabado de chegar a Metangula na CF8, procurei logo, nesse dia, adquirir um terreno para construção duma vivenda junto ao lago, na costa virada à Messumba. Acertados os pormenores para a compra com a Administração local e encetadas diligências para a construção, mandei ir da Metrópole trinta contos, quantia previamente calculada necessária. Chega o dinheiro e... "Veloso, prepara-te que amanhã de manhã partes com o teu pelotão na LDM (Lancha de Desembarque Média) para o Cóbué", foi a ordem que o sargento de Dia me foi transmitir à messe de sargentos! Claro que barafustei. Não era a mim que competia ir. Eu era o mais antigo do Pelotão. Havia três mais modernos mas... também havia tachos em jogo: o Entreposto da Marinha em Vila Cabral, a liquidação dos vencimentos e outro que agora me não ocorre.
    No Cóbué tudo se apresentava estranho, misterioso. Estávamos, então, no ano de 1966. Fomos reforçar o Destacamento não me lembro qual(nas minhas quatro comissões no Ultramar estive em tantos...)e devo dizer que, se fomos instalados num hotel com estrelas, não demos por elas, se calhar por estarem apagadas... Se a memória me não engana, ali permanecemos seis meses, tempo bastante para conhecer o Colégio de S.Miguel por dentro e por fora, cujas condições minimamente aceitáveis de habitabilidade éramos nós que as íamos criando depois de ter ficado tudo destroçado na limpeza das populações que lá viviam; a Igreja completamente desventrada de todo o seu recheio (só obras de arte em pau-preto e pau-rosa tinha uma riqueza), tendo eu assistido, impotente para o impedir, ao saque de muitas peças, umas para recordação, outras para venda; o Miradouro, sobranceiro ao lago e o posto Administrativo desactivado, onde teimosamente permanecia um cipaio, o Wash, e, numa tosca palhota ao lado, continuava uma velhota "sem idade", mais conhecida por miss Cóbué, com umas peles peitorais de algo que outrora teriam sido umas mamas estendidas até aos joelhos mas que, mesmo assim, era a safa rascadas duma rapaziada faminta de sexo! Cipaio e miss Cóbué foram as únicas almas que ficaram duma debandada em massa para as fileiras da Frelimo uns, para a Ilha do Likoma outros; muitos, terão sido as hienas a fazer-lhes os funerais... Ao fundo a Baia do Chigoma, também canal entre Likoma e aquela parte de Moçambique, baia onde (para minorar carências de alimentos durante uma semana)íamos pescar com granadas feitas de garrafas das cervejas (umas rebentavam outras faziam pff), tendo nós que andar constantemente "à cacetada" com as águias pesqueiras que na recolha do peixe nos vinham roubá-lo das mãos.
    Tenho algumas fotografias tiradas no Cóbué que quero começar a procurar onde param.

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