quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O mundo virado do avesso!


O Artur é ainda um rapazinho, mas sonha vir a torar-se um engenheiro químico. Nasceu na Meleluca, local que para mal dos meus pecados conheci nos tempos da guerra de libertação, pois andava embarcado nas lanchas de fiscalização da Marinha de Guerra Portuguesa muito tempo antes de o Artur ter nascido.
Quando era miúdo via o sol nascer sobre as montanhas e depois desaparecer, ao fim do dia, para os lados do Malawi. Os estudos levaram-no para Lichinga e mais tarde para Nacala, onde agora vê o sol aparecer-lhe das ondas do oceano Índico e esconder-se para lá das colinas por trás de Nacala.
Na Meleluca nadava num mar de água doce, nela se lavava e dela bebia sofregamente quando sentia sede. Agora tem que procurar um duche de água doce se quiser tirar o sal da sua pele depois de dar umas braçadas nas ondas azuis do Índico.
Uma mudança e tanto, mas a sua vida mudará mais ainda quando terminar o seu curso de química e se candidatar a trabalhar numa das muitas empresas que crescem como cogumelos na costa norte de Moçambique e se dedicam ao negócio do petróleo e gás, as riquezas recém-descobertas que vão fazer crescer a economia de Moçambique e torná-lo, finalmente, num país sem miséria. Com alguma sorte, porque sem ela nada feito, este rapazinho que, há cerca de 20 anos, viu a luz do sol pela primeira vez nas margens do lago mais lindo do mundo, poderá ter uma palavra a dizer no futuro económico de Moçambique. Se até lá os chineses e os outros tubarões da petroquímica não tiverem comido tudo.

1 comentário:

  1. Deus te oiça para bem dos moçambicanos,
    se eles não tiverem comido tudo, dizes bem
    mas eles em todo o mundo são tantos
    só os cogumelos venenosos deixam para alguém!

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